Os 10 melhores curtas-metragens do 3º Festival de Cinema de Rondônia
A programação oficial do Festival aconteceu de 1º a 9 de agosto, com a exibição dos 29 títulos da Mostra Competitiva. Assisti a todos eles, e estes foram os que mais me marcaram.
A partir do terceiro dia de Festival, começaram a ser exibidos no Teatro Guaporé os curtas-metragens da Mostra Competitiva da 3ª edição do Festival de Cinema de Rondônia. Ao todo, foram 6 dias de exibição de curtas, com 29 títulos de diferentes regiões do país. Aqui vai uma lista dos 10 curtas que mais me tocaram dentre todos os selecionados.
10. SEEDING, BLOSSOMING, FRUITING
DIR. JUNSONG LING | DRAMA, SUSPENSE | 2024 | 16 MIN | CHINA
Órgãos saudáveis podem ser “replantados” para curar corpos doentes, e o amor se torna uma força que cruza limites mortais: a mãe mata para salvar o filho; ele mata para salvá-la. Junsong Ling constrói 16 minutos de tensão sombria, onde afeto e sobrevivência se entrelaçam, e o poder de poucos detém os meios de salvar vidas. Entre violência e necessidade, o curta revela até que ponto o amor e a desigualdade podem coexistir.
9. VIDA DE CINEMA
DIR. ÉLCIO MELO | DOCUMENTÁRIO | 2023 | 7 MIN | SÃO PAULO
O teatro encontra o cinema neste curta-metragem paulista, onde a energia dos palcos se funde à linguagem cinematográfica na criação de um manifesto audiovisual. A obra expõe, com franqueza, a dificuldade de se fazer cinema no Brasil e, sobretudo, de enfrentar um circuito de festivais que frequentemente cobra taxas de inscrição antes mesmo de decidir se exibirá ou não o filme.
8. OUTROS ABRIGOS
DIR. THIAGO CARDOSO | DOCUMENTÁRIO | 2024 | 19 MIN | PARANÁ
Seis jovens de Curitiba, que cresceram no abrigo da Chácara Meninos de 4 Pinheiros, enfrentam os desafios da vida adulta. A direção de Thiago Cardoso capta cada gesto com sensibilidade, permitindo que a narrativa se construa na autenticidade dos protagonistas. Entre memórias e descobertas, o documentário celebra a resistência e a esperança que nascem da capacidade de se reinventar.
7. LAGRIMAR
DIR. PAULA VANINA | DRAMA, ANIMAÇÃO | 2024 | 14 MIN | RIO GRANDE DO NORTE
A protagonista, uma criança, surge como o único elemento animado e colorido em meio ao realismo em preto e branco do sertão potiguar. Ao se encontrar com suas próprias lágrimas, a paisagem árida se abre para outros elementos igualmente vivos e coloridos. A realidade é dura, mas Paula Vanina encontra espaço para a esperança na criatividade infantil — representada pela própria animação, que simboliza uma resistência delicada, como um mandacaru na caatinga ou uma lágrima que percorre a pele seca de uma criança.
6. COMO NASCE UM RIO
DIR. LUMA FLÔRES | DRAMA, ANIMAÇÃO | 2024 | 8 MIN | BAHIA
Ayla atravessa um caminho de autodescoberta e aceitação de seus desejos e identidade LGBTQIAPN+. A animação baiana transforma sensações íntimas em imagens que flutuam entre memória e imaginação, criando uma experiência contemplativa e sensorial. A obra revela, com delicadeza, como o encontro consigo mesmo pode ser um rio de descobertas e possibilidades, e celebra a potência de narrativas que nascem da diversidade e da autoria feminina, aqui capitaneada por Luma Flôres.
5. TALVEZ O VENTO SAIBA SEU NOME
DIR. ALEXIS MÜLLER, DUDA MACHADO | DOCUMENTÁRIO | 2024 | 12 MIN | SÃO PAULO
Manuela descobre que sua mãe biológica foi uma desaparecida política da Ditadura Chilena. A revelação desencadeia uma busca delicada por identidade e memória. Filmado entre Brasil e Chile, o curta constrói um diálogo sensível entre histórias pessoais e conjunturas políticas, onde passado e presente se entrelaçam. A obra de Alexis Müller e Duda Machado transforma lembranças e lacunas em imagens poéticas, convidando o espectador a refletir sobre herança, resistência e o que carregamos de nossos antecessores. A busca pela reconstrução da memória remete ao A Memória que Ficou, de Kaline Leigue, que parte de um lugar e necessidade semelhantes, ainda que sem as mesmas conotações políticas.
4. O ESTRANHO COMPORTAMENTO DOS CORPOS CELESTES
DIR. NAOMI MATSUI | DRAMA | 2024 | 15 MIN | SÃO PAULO
Uma atriz de meia-idade se vê fascinada por uma celebridade das mídias. Após inúmeras tentativas frustradas de obter sua atenção nas redes sociais, ela encontra uma oportunidade esquisita de convidá-lo para um jantar. Ele aceita, e nesse encontro são reveladas tensões sutis entre idealização e realidade, entre desejo e expectativa. Naomi Matsui constrói uma narrativa intencionalmente desconfortável sobre fetichização de celebridades, encontros, desencontros e a complexidade das relações humanas, expondo as fragilidades, obsessões e desequilíbrios que podem permear a ideia de conhecer os alvos da nossa idolatria.
3. LINDA DO ROSÁRIO
DIR. VLADIMIR SEIXAS | DRAMA | 2024 | 19 MIN | RIO DE JANEIRO
Jéssica vive à flor da pele dois momentos intensos em sua vida amorosa: o desmoronar de um amor ausente e o surgimento de uma paixão que promete transformá-la para sempre. Existe muita sensibilidade em como Vladimir Seixas registra os corpos pretos, com destaque para uma cena de intimidade sexual belíssima e apaixonada, marcada por tons vermelhos sóbrios, sombras profundas e destaques suaves de luz sobre a pele dos protagonistas. O desfecho causa um impacto inesperado.
2. E ASSIM APRENDI A VOAR
DIR. ANTONIO FARGONI | DRAMA | 2024 | 14 MIN | RONDÔNIA
O protagonista, vivido por Guilherme Sussuarana, é pessoa com deficiência e acabou de perder o emprego. Enquanto busca outras oportunidades, ele descobre no audiovisual uma nova possibilidade de percorrer os caminhos de sua vida. A obra possui uma perspectiva muito acertada na forma como aborda a vivência da pessoa com deficiência, colocando-as no centro da história, sem nunca resumir suas existências à deficiência. No melhor final entre todos os curtas exibidos no Festival, uma simples movimentação de câmera via drone é mais do que suficiente para abrir um sorriso em qualquer um que ama cinema.
1. AURORA
DIR. ALAN MENDONÇA FURTADO | DRAMA, GUERRA, ROMANCE | 2024 | 18 MIN | RIO GRANDE DO SUL
Duas soldadas percorrem um mundo destruído, onde mulheres e homens parecem ter travado um conflito sem precedentes, responsável pelo colapso da sociedade como a conhecemos. Movidas pela urgência da sobrevivência, as protagonistas exploram um prédio traiçoeiro, em que cada passo carrega o risco iminente da morte. A tensão se projeta como suas próprias sombras. A direção de arte, o figurino e a maquiagem alcançam um nível de detalhe impressionante, tornando palpável esse universo devastado e impregnado de sujeira. A fotografia monocromática, de nitidez quase cruel, intensifica a sensação de abandono e degradação do cenário. Ainda assim, entre ruínas e silêncios, resta espaço para a descoberta do desejo — e de um amor implícito, sempre ameaçado pela presença masculina.












