As 10 melhores comédias românticas da história
As 10 melhores comédias românticas da história, na minha ordem de preferência.
Revisitar o subgênero da comédia romântica é voltar a um dos territórios mais férteis, e infelizmente, mais subestimados da história do cinema. Frequentemente percebido como subgênero menor, de filmes supostamente detentores de uma leveza que os torna irrelevantes demais para receberem olhar crítico, as rom-coms carregam, em sua estrutura híbrida, uma singularidade: são capazes de comentar relações humanas, ansiedades sociais e transformações culturais, enquanto, nos melhores casos, constroem narrativas acolhedoras, encantadoras, e divertidas.
Selecionar apenas dez títulos de um subgênero que possui mais de 100 anos de história, não é uma tarefa fácil, contudo, é um exercício revelador. Mostra como o subgênero dialoga com diferentes percepções a respeito das relações amorosas, e pensando em dinâmicas de ideologização, tanto moldam quanto são influenciadas pela forma com a qual a sociedade capitalista, heteronormativa e patriarcal, percebe e deseja essas relações.
Essa lista não ignora essa realidade, entretanto, também não intenta subvertê-la. Os filmes que compõem a lista, por motivos óbvios, são algumas das obras que incluí no meu repertório ao longo do tempo. Aqui, vamos de clássicos hollywoodianos até a modernidade melancólica; da efervescência adolescente aos encontros improváveis da vida adulta; do romance que nasce na simplicidade cotidiana aos que se tornam mitos culturais.
Sem mais delongas, vamos à lista.
10. Um Lugar Chamado Notting Hill
Dir. Roger Michell | Comédia, Romance | 1999 | 124 min
Will (Hugh Grant), pacato dono de livraria especializada em guias de viagem, recebe a inesperada visita de uma cliente muito especial: a estrela de cinema americana Anna Scott (Julia Roberts). Dois ou três encontros fortuitos mais tarde, Will e Anna iniciam um relacionamento tenro, engraçado e cheio de idas e vindas.
O encontro entre o dono de uma pequena livraria de bairro e uma das atrizes mais famosas do mundo parece, a princípio, uma fantasia impossível. E é justamente esse contraste que faz o filme funcionar tão bem. Will e Anna vivem em ritmos diferentes, carregam expectativas muito distintas e, ainda assim, encontram no outro um respiro. A obra se apoia em diálogos simples, situações desajeitadas e um senso de humor que nunca força o riso. O romance cresce aos poucos, em trocas que soam sinceras, e é isso que torna o filme tão querido até hoje.
9. 10 Coisas que Eu Odeio em Você
Dir. Gil Junger | Comédia, Romance, Drama | 1999 | 97 min
Em seu primeiro dia na nova escola, Cameron (J. Gordon-Lewitt) se apaixona por Bianca (Larissa Oleynik). Mas ela só podera sair com rapazes até que Kat (Julia Stiles), sua irmã mais velha, arrume um namorado. O problema é que ela é insuportável. Cameron, então, negocia com o único garoto que talvez consiga sair com Kat, um misterioso bad-boy com uma péssima reputação (Heath Ledger).
O longa se consagra como uma das adaptações mais marcantes de Shakespeare (A Megera Domada) conquistou seu espaço por unir carisma, ironia e um olhar afetuoso para conflitos típicos da adolescência. Cameron, Bianca, Kat e Patrick vivem sob a pressão das expectativas escolares, das reputações e dos rótulos que todos tentam evitar. Mesmo com uma estrutura narrativa clichê, o filme dá personalidade aos personagens e encontra força no embate entre independência e vulnerabilidade. É leve, marcante e, de certa forma, mais honesto do que muitas narrativas adolescentes modernas.
8. Folhas de Outono
Dir. Aki Kaurismäki | Drama, Comédia, Romance | 2023 | 81 min
Em Helsinque, Ansa (Alma Pöysti) e Holappa (Jussi Vatanen), duas almas solitárias em busca do primeiro amor, conhecem-se por acaso em um bar de karaokê. Porém, o caminho dos dois para a felicidade é cercado por vários obstáculos: de números de telefone perdidos a endereços errados, alcoolismo e uma charmosa cachorrinha de rua.
Kaurismäki constrói um romance silencioso, feito de olhares tímidos e pequenas dificuldades, que é permeado por um estilo de humor seco, bastante contido, muito característico da sua filmografia. Ansa e Holappa são duas figuras que carregam o peso de suas rotinas, de trabalhos desgastantes e de uma solidão que parece difícil de contornar. O filme encontra beleza justamente nesses gestos que quase passam despercebidos: um convite, uma chance perdida, um pequeno erro que atrasa tudo. É uma comédia romântica um tanto dramática, feita de respirações, e não de grandes declarações.
7. O Dia Que Te Conheci
Dir. André Novais Oliveira | Comédia, Romance | 2023 | 69 min
Zeca (Renato Novaes) todo dia tenta levantar cedinho para pegar o ônibus e chegar, uma hora e meia depois, na escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo anda cada vez mais difícil, há algo que o impede de manter esse cotidiano. Um dia Zeca conhece Luisa (Grace Passô), e tudo muda, tanto no trabalho, quanto na sua vida afetiva.
O romance entre Zeca e Luisa nasce do cotidiano apertado de quem depende de ônibus lotado, horários apertados e um cansaço que parece não ter fim. A graça do filme está na maneira como André Novais olha para esses dois personagens com cuidado e simplicidade. A história não corre atrás de momentos grandiosos. Ela se contenta com caminhadas noturnas, conversas curtas e um reconhecimento mútuo que transforma o dia a dia. É um romance que existe entre uma tarefa e outra, e talvez por isso seja tão fácil de acreditar.
6. Sabrina
Dir. Billy Wilder | Comédia, Romance, Drama | 1954 | 113 min
Sabrina (Audrey Hepburn), filha do motorista da família Larrabee, foi apaixonada por David Larrabee (William Holden) a vida toda. Após anos sendo ignorada, Sabrina retorna de uma longa viagem, e atrai a atenção de David. Linus (Humphrey Bogart), o irmão de David, teme que essa aproximação arruíne o casamento iminente de David com uma mulher muito rica. Então, Linus tenta manter Sabrina distante de seu irmão, cortejando-a para salvar os negócios de sua família.
Mais um exemplo de clichê bem feito. O filme é elegante, divertido e atento às diferenças sociais que moldam as relações. Existe a boa intenção de se fazer breves apontamentos sociais, criticando o endeusamento da riqueza, das vidas de aparências e ostentação, para além do preconceito existente entre classes. Apesar de não ser o elemento central da história, nada soa jogado na narrativa. O triângulo amoroso funciona muito bem, porque cada personagem tem motivações compreensíveis e porque Wilder sabe criar situações cômicas sem perder a delicadeza. Hepburn é fantástica, e consegue roubar os holofotes de Holden e Bogart sempre que entre em cena.
5. A Princesa e o Plebeu
Dir. William Wyler | Comédia, Romance, Drama | 1953 | 119 min
Ao visitar Roma, Anne (Audrey Hepburn), uma princesa, resolve fugir da comitiva real, e passear anonimamente pela cidade. Assim, ela cruza acidentalmente o caminho de Joe Bradley (Gregory Peck), um repórter que, ao reconhecê-la, precisa escolher entre uma oportunidade profissional, ou a preservação da intimidade de Anne.
O conflito central é claro: a princesa quer viver a cidade sem obrigações, enquanto o repórter precisa decidir se publica a matéria que o faria crescer profissionalmente. A tensão entre honestidade e desejo torna tudo mais interessante. O preço da liberdade, valores como integridade e respeito a intimidade do outro, redescoberta da beleza que existe na simplicidade do cotidiano, e quais os limites do desejo frente às responsabilidades dos indivíduos, são alguns dos temas que o filme carrega consigo. O tropo da “pessoa normal” que conhece uma pessoa famosa, quase inalcançável, de Notting Hill, tem em A Princesa e o Plebeu uma de suas inspirações.
4. Se Meu Apartamento Falasse
Dir. Billy Wilder | Drama, Romance, Comédia | 1960 | 125 min
Um funcionario ambicioso (Jack Lemmon) descobre um atalho para subir na companhia em que trabalha: ceder seu apartamento para os encontros amorosos de seus chefes. A tática inicialmente dá certo, mas passa a ser ameaçada quando ele se apaixona pela amante de um de seus chefes (Shirley MacLaine).
Mais um filme da lista que elabora o romance não de idealizações, mas de dois personagens que compartilham frustrações e buscam algum tipo de dignidade em meio ao caos que os rodeia. Direção de arte fantástica que conversa aos olhos toda a exploração trabalhista e desconforto, trabalhando técnicas que reverberam até hoje, inclusive na televisão, como na série original da Apple TV, Ruptura (2022-presente). Todo o desconforto visual serve posteriormente, para construir o romance que nasce em meio a dificuldade, entre personagens imperfeitos, que possuem dilemas morais claros, mas que são humanos. É da humanidade que surge o humor sutil do longa.
3. Harry e Sally: Feitos um Para o Outro
Dir. Rob Reiner | Comédia, Romance, Drama | 1989 | 96 min
No fim de sua formatura na Universidade de Chicago, Harry Burns (Billy Crystal) dá a Sally Albright (Meg Ryan), formanda amiga de sua namorada, uma carona até Nova York. Os anos passam e eles continuam a se encontrar esporadicamente, mas a grande amizade que desenvolveram é abalada ao perceberem que na verdade estão apaixonados um pelo outro.
A pergunta que conduz o filme é simples: homens e mulheres podem ser apenas amigos? A partir desse ponto, Reiner constrói uma das relações mais ricas do gênero. Harry e Sally passam anos se cruzando, se afastando e se reencontrando, sempre tentando entender o que significam um para o outro. A força da obra está na forma natural como o tempo age sobre eles. O romance não nasce de um único gesto, mas da convivência, de conversas longas e de pequenas descobertas compartilhadas.
Além da força do roteiro e da construção da amizade ao longo dos anos, o filme ajudou a moldar a estética das comédias românticas centradas em diálogos espirituosos e intimidade cotidiana, algo que reverberou em praticamente toda a produção hollywoodiana dos anos 90. O humor sutil, sustentado por performances muito conscientes do tempo e do silêncio, reforça a humanidade desses personagens, criando momentos que se tornaram referência cultural.
2. As Patricinhas de Beverly Hills
Dir. Amy Heckerling | Comédia, Romance | 1995 | 97 min
Em Beverly Hills, a adolescente Cher (Alicia Silverstone), filha de uma advogado (Dan Hedaya) muito rico, passa seu tempo em conversas fúteis e fazendo compras com amigas totalmente alienadas como ela. Mas a chegada do enteado de seu pai, Josh (Paul Rudd), muda tudo, primeiro por ele criticá-la de não tomar conhecimento com o “mundo real” e em segundo lugar por ela descobrir que está apaixonada por ele.
Cher pode parecer superficial em um primeiro olhar, mas o filme rapidamente revela que sua trajetória é mais complexa. A diretora aproveita a vida luxuosa de Beverly Hills para construir uma comédia afiada, que brinca com modas, vaidades e excessos, mas nunca deixa de tratar sua protagonista com honestidade. O romance surge de forma natural, à medida que Cher passa a questionar suas próprias ideias e percebe quanto ainda precisa aprender sobre si mesma e sobre o mundo ao redor.
A abordagem pop e o uso muito preciso da estética californiana de Beverly Hills, transformaram o filme em um marco cultural que influenciou moda, linguagem e toda a onda de comédias adolescentes dos anos seguintes. Heckerling utiliza cenários, figurinos e dinâmicas sociais como parte da narrativa, criando um visual icônico que ainda hoje é revisitado. É justamente dessa combinação entre humor, estilo e observação social que o filme tira sua força duradoura.
1. Feitiço do Tempo
Dir. Harold Ramis | Comédia, Romance, Fantasia | 1993 | 101 min
Um repórter (Bill Murray) de televisão que faz previsões de meteorologia, vai a uma pequena cidade fazer uma matéria especial sobre o celebrado “Dia da marmota”. Pretendendo ir embora o mais rapidamente possível, ele inexplicavelmente fica preso no tempo, condenado a vivenciar para sempre os eventos daquele dia.
A repetição infinita do mesmo dia transforma a jornada do protagonista em algo maior que uma simples história de amor. Ele precisa encarar suas falhas, reconhecer suas atitudes e perceber o que realmente importa. O romance não cresce como um prêmio, mas como consequência dessa mudança interna. É por isso que o filme permanece tão marcante: ele entende que amar é também se transformar.
A estrutura de repetição, que parece simples à primeira vista, acabou inaugurando um modelo narrativo repetidamente explorado por filmes e séries posteriores, sempre com o longa de Ramis como principal referência, como Palm Springs (2023). A maneira como a fantasia serve para revelar tanto falhas pessoais quanto potencial de mudança tornou o filme um estudo querido não só do público, mas também da crítica. É desse equilíbrio entre conceito e sensibilidade que surge o humor particular da obra.
Menções honrosas
Feitiço da Lua (1987)
À Procura do Amor (2013)
Aconteceu Naquela Noite (1934)
Nos Bastidores da Notícia (1987)
De Repente 30 (2004)












